segunda-feira, 24 de setembro de 2018

MINHA ÚLTIMA FALAÇÃO. PROMETO CALAR-ME PARA SEMPRE SOBRE ESTE TEMA

Vou contar para vocês uma história simples mas verdadeira. Com todas as credenciais de intocabilidade.

Estamos no ano de 1945, encerra-se neste ano a Segunda Guerra Mundial. Já estou marcando presença no mundo. Festa no Gambá. Contudo,  consideram-me quase nulo porque não penso. Sou um poste, como todos os mata-ratos. Meus pais, avós, tios e primos mais velhos pensam por mim. Hoje, para os incautos, a Globo faz este favor, intragável. Neste ano atual, 2018, depois de passar numa longa estrada, de há muito consigo pensar. 

Agora pulamos para 1957 e aprendo a tarefa, embora tenha um pensador-guru que nunca pensou por mim, mas que  me guiou nos caminhos. Ele se chamava João Rodrigues de Moura, avô de minha companheira de vida, Marlete. A prova de sua neutralidade está aí: a partir de 1962, quando já namorava a neta dele, fazia-me perguntas tipo assim: “O que acha da renúncia de Jânio Quadros?” No entanto,  não sabia que eu era comunista, de araque mas comunista, ou de pirraça, como existem milhares embutidos por aí. No armário.

Agora estou no Ginásio São Francisco, em Conceição do Mato Dentro, anos 1959-1960, com 15 "abrobrinhas" nas costas e continuo comunista. Seu Albertino, barbeiro do Ginásio, corta nosso cabelo, já com agenda, vende pé de moleque e conversa política. Ele me fala que Zé Aparecido tem tendência esquerdista, mas que é apenas por conveniência. Acho bonito ser comunista de mentirinha.

Chegamos a 1961 e me preparo para estudar  no Colégio Anchieta, em Belo Horizonte, matriculado por meu pai no Ensino Médio. Antes, porém, recebo um aviso expresso, ameaçador, do Vander, que se casaria algum tempo depois com minha tia Mercês. Eis o recado do ilustre futuro tio, guardado em miudezas nas profundezas da memória: “Você terá um professor de Inglês que é um monstro!” Delatou o nome do mestre do horror, que agora não devo repetir suas letras porque ele acabou ficando cego e se foi deste mundo.  Respeito é bom, não é, Vander?

O professor apronta mesmo:  chama-me para arguição. Como? — fiz comentário pessoal de mim para mim  — se nem sei Inglês, não tive professor desta disciplina no Ginásio São Francisco e ainda sou um quase surdo (só descobri que não escutava aos 30 anos de idade, mas isso é outra história). Vamos ao professor que me fez uma ou mais perguntas e eu fiquei calado como os culpados que vão aos tribunais. Ele, que já me fazia tremer em cima dos sapatos, garantiu de bom tom: “Aposto que você é comunista e vai ser preso quando chegar na idade de gente grande!” Ainda bem, pensei com meus botões, não tenho ainda a maioridade para ver o sol nascer quadrado e posso viver livre. 

Agora, meu pai compra um jipe e sou seu único motorista. Retorno para a terra natal, aos 17 anos, São Sebastião do Rio Preto, para aguardar, impacientemente, a maioridade e depois ser preso, como previu o truculento professor de Inglês, que abandonei por merecimento. Já na Vila de São Sebá, chega uma correspondência para meu pai e resolvo lê-la com a curiosidade que Deus me deu. Era uma circular do padre comunicando aos paroquianos da Aldeia  a decisão de derrubar a Igreja de Baixo, ou do Rosário. Os motivos eram muitos — “é dispendioso cuidar de duas igrejas, esse templo não tem a estampa original etc. etc. etc — e estava decidido, quem manda em velha São Sebastião do Cemitério é o Seu Vigário e fim de papo. 

Começo os ataques, com ajuda de alguns companheiros, decidido a agitar o povoado: faço pichações nos muros com nomes dos “demônios” odiados pelo padre, de Chë Guevara e Fidel Castro ao ditador soviético Nikita Khrushchov; repico  sino na velha Igrejinha de Baixo durante as madrugadas silenciosas; e penduro em fios de energia elétrica na porta da casa do padre, gatos angorás dentro de sacos, os quais enlouquecem até onças por ventura existentes. 

Mas Seu Vigário não desiste e, como ninguém topa assinar um abaixo-assinado que encabeço (somente meus malucos companheiros de algazarra topam), enrolo o tempo me  preparando para ir embora da terra natal. Isto depois de fazer mais e mais bagunças e de tomar uma decisão até certo ponto brilhante: na minha saída da terrinha escrevo a todos os que ofendi, ajoelho-me aos pés de todos com humildade, mesmo imaginariamente e, a cada um  dirijo uma carta particular e especial de verdade. Perdão, perdão, perdão, era o meu novo tom de voz. Burro manso não faz medo em ninguém. Ao padre, no entanto, não escrevo uma escassa linha porque não queria a derrubada da Igreja do Rosário, crime que ele acabaria cometendo  no ano seguinte. Estava trabalhando em João Monlevade., meu tio Seraphim Sana Filho, o Tililito, entrega-me uma foto da igreja com os dizeres escritos no verso: “Última foto da Igreja de Baixo”.

O padre arrancou peça por peça daquela sagrada ermida, que tinha um relógio vindo do Vaticano, segundo os bem informados, e pinturas no teto caprichosamente feitas por discípulos do Mestre Ataíde, além do estilo colonial, cópia fiel de igrejas portuguesas dos séculos XVII e XVIII, nas partes internas e externas. Só me estendi a esses pormenores para explicar o porquê era comunista, mesmo fake.

Vamos dar uma folga ao tempo e neste momento que estamos  no ano de  1972, quando sou fisgado em Itabira para me filiar ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido político de esquerda, oposição à Aliança Democrática Nacional (Arena), esta agremiação partidária que apoiava a ditadura militar. “Candidatam-me” a vereador, sou eleito, exerço o mandado, reelejo-me quatro anos depois, presido a Câmara Municipal em 1978 e 1982 e aprendo que ser direita ou esquerda é convicção para grupos isolados e reduzidos.

Até que agora estamos em 1975, sou aluno de Jornalismo na Fafi-BH, hoje Uni-BH. Aí foi que desenvolvi uma melhor aprendizagem do que são os sistemas de governo, os regimes e as histórias pelo mundo  afora. Mesmo sabendo que em Itabira não há vestígio de repressão aos esquerdistas,  tinha notícias vindas de longe que  me revolta, como esta:  os partidos criados pelo governo eram de araque, como a minha convicção comunista, isto é, para rotular o país  como democrático, como me rotulei de comunista de meia tigela.


Foto: Divulgação

Hoje ultrapasso a linha demarcatória dos 70 anos e já posso tirar proveito do tempo vivido. A imprensa foi  a minha melhor faculdade — editei jornais por mais de 30 anos e  fui editor´diretor da revista DeFato durante 20 viradas de janeiros —  e continuo administrando sites ou blogs.  Passei  por caminhos tortuosos, fui submetido a várias batalhas, caí muito durante os embates, mas sempre me levantei.

Tenho que encerrar porque ninguém é de ferro para continuar lendo estes rabiscos, mesmo que os faça com absoluta convicção da verdade e selando a minha posição não covarde. Não sou  molenga, mas  rejeito  plenamente a hipocrisia e todo tipo de falsidade. Que duvidem, isto não me interessa.

E vamos à conclusão: Socialismo é uma palavra muito bonita mas que, infelizmente, não funciona na prática. Num país socialista por extenso (o Brasil é semi-socialista e não deu certo) ninguém enfrenta a fome frente a frente, mas não ingere o alimento que almeja; esse falso cidadão desfruta de assistência educacional, garantia de segurança e goza de cuidados em saúde, talvez em medicina mais evoluída (não conheço tal país utópico), mas não pode estudar o que quer; e o mais importante: não pode nem ler e nem pensar. Se acha vantajoso o governo pensar por ele, terá este “favor governamental” e o governo faz a  tarefa totalmente sua com muito prazer. 

Assim, é contrariado o grande quesito de responsabilidade que Deus deu ao ser humano: o livre arbítrio. Por meio do livre arbítrio você  faz o que quer e recebe o prêmio pelas virtudes praticadas; tem o castigo que conquistou equivalente aos erros cometidos. Está aí a única justiça possível, irrepreensível e incontestável que existe na face do Planeta Terra.

Pior que o Socialismo é o Caminho para o Comunismo, e ainda mais aterrorizante é o Comunismo propriamente dito. Os seus defensores, que não me convencem, afirmam que ainda é lançamento para o futuro, como uma bebida promocional ou um novo produto de beleza ou para emagrecimento. No caso atual da China, que pratica abertamente o Capitalismo, talvez seja Comunismo Meia Boca, novidade na história do mundo.

A Alemanha pós-Segunda Guerra Mundial nos dá mais um exemplo de que o Socialismo é fraude, conversa para fazer boi dormir ou papo vencido. O não saudoso Muro de Berlim dividiu as duas em Ocidental, Capitalista, e Oriental, Comunista. Felizmente, o muro foi derrubado mas a miséria continua  imperando escandalosamente do lado do Oriente. O Ocidente, progride com todas as perspectivas e estampa competência da tecnologia mais avançada para o mundo. Está na Europa central o exemplo: ligue para Dbrasil, faça um orçamento de viagem e vá conhecer de perto o que acabo de afirmar.

Pare para pensar porque o momento brasileiro vivido neste instante é grave. Estamos numa encruzilhada: ou rumo ao Comunismo, ou teremos que melhorar o Capitalismo.  Vamos escolher, como nos desfiles militares: ou “Direita, volver” ou “Esquerda, volver”. Basta: ou buraco negro; ou esperança. 

Se der esquerda, salve-se quem puder! Seremos 200 milhões pedindo esmolas não se sabe a quem. Viveremos um pré-apocalipse, lamento antecipar o que vejo pela frente.
Falei? Obrigado.

P.S.: Sei que praticamente ninguém vai ler o que escrevi. Fica, então, como cumprimento de obrigação para checagem futura. Se errar, que zombem de mim. Eu mesmo me achincalharei com prazer se estiver classificado no rol dos absurdos. Se acertar nas previsões, calo-me e agradeço a Deus por ter-me ouvido.

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