segunda-feira, 2 de novembro de 2020

LIBERDADE, EIS O RECONHECIMENTO QUE LHE DEVO

Desde a concepção do mundo, não apenas pelo que rezam a Bíblia e o Alcorão, a conquista natural do homem e da mulher está sustentada pelo livre arbítrio. Somos livres e responsáveis pelo que fazemos por meio de quaisquer manifestações, seja na prática de atos, ou da expressão do pensamento, na escrita ou no dom artístico.

Toda a caminhada terrestre tem este sustentáculo, seja divino para quem crê em Deus, ou à luz da inteligência, na prática do dia a dia. Sugere-se que, enquanto dependente dos pais, uma criança não tem a liberdade para agir. Daí para a frente, até quando, por ventura, seja atingido pela esclerose, com atestado médico de alguma doença como, por exemplo, Alzheimer, o ser terrestre deve gozar desta concessão de poder agir de acordo com a sua vontade e liberdade, ser premiado ou condenado por acertos ou erros cometidos na vida. Outra exceção fica por conta dos portadores de necessidades especiais, que dependem de mãos protetoras.

 Vivi minha vida sempre sob a busca inarredável da razão, desde criança. Chego a esta altura do tempo galgando conquistas materiais ou não, acredito que mais espirituais. Adotei a liberdade como guia. Sou livre - digo para mim mesmo com orgulho, embora tenha, em algumas vezes, que negociar esta liberdade, culpa de alguma fraqueza, às vezes para não ferir interesses e, mais do que isto, não causar prejuízos a quem quer que seja.



Fiz o preâmbulo acima para dizer o seguinte: aos 75 anos, dez meses e dois dias não vou abrir mão de minhas conquistas sob hipótese alguma, porque ninguém conseguirá provar que não gozo de perfeitas faculdades mentais. Sou o mesmo ser equilibrado e graças a isto pude enfrentar a vida com todas as suas agruras e limitações. Desde a decisão  de casar-me e planejar a chegada de cinco filhos, de tê-los honrado sempre e os sustentado enquanto eram dependentes. Para completar, de zelar pelos netos sentimentalmente, o que me é permitido.

Já nas proximidades do fim deste período aqui na terra, posso repetir meu agradecimento a Deus por ter chegado até aqui sob a privação quase total de uma faculdade que é, talvez, a segunda mais importante entre os cinco sentidos humanos, acredito: a audição. O dia em que um otorrinolaringologista me disse que sou  um ser diferenciado por estar, na época, cursando o superior e estudando outro idioma, senti-me encorajado a seguir em frente e ultrapassar ainda mais determinado as linhas divisórias que ficam entre a humilhação e a depressão. As palavras dele serviram para o fortalecimento de minhas convicções interiores sobre o seguinte: o que nos é tirado tem recompensa, talvez até em dobro.

Citei este episódio para fortalecer meu sempre desejo e sustentáculo de liberdade, condição que dela não abro mão, até porque não estou nada preocupado com biografia, tenho que prestar contas a Deus e Ele é o Ser Determinador do que faço hoje e farei amanhã ou em outro dia que, por desejo D’Ele, continue a viver. Agora mais do que nunca porque já sei como será o que vem por aí. Por inúmeras vezes me recuei quando era desafiado a seguir em frente. Os fracassos seguidos não me assustaram, pelo contrário me dão a certeza de que chega de ser passivo. Agora o clamor pela defesa dela, a liberdade, me impulsiona a força e me diz: “Com esta idade toda, tu vais acovardar?”

Não, não vou! Sou outro José, me apresento e já posso encerrar porque o recado foi dado.  E o complemento: não escrevo uma linha para agradar a ninguém. O motivo de agora não é político, mas em defesa de minhas plenas certezas.  O tempo gasto para aprender foi longo demais. Se errado estiver quem vai pagar sou eu mesmo. Só não quero ser cobrado por omissão.

 Sem medo nem rancor.

 José Sana

 02/11/2020

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