Desde a concepção do mundo, não apenas pelo que rezam a Bíblia e o Alcorão, a conquista natural do homem e da mulher está sustentada pelo livre arbítrio. Somos livres e responsáveis pelo que fazemos por meio de quaisquer manifestações, seja na prática de atos, ou da expressão do pensamento, na escrita ou no dom artístico.
Fiz o preâmbulo acima para dizer o seguinte: aos 75 anos, dez meses e dois dias não vou abrir mão de minhas conquistas sob hipótese alguma, porque ninguém conseguirá provar que não gozo de perfeitas faculdades mentais. Sou o mesmo ser equilibrado e graças a isto pude enfrentar a vida com todas as suas agruras e limitações. Desde a decisão de casar-me e planejar a chegada de cinco filhos, de tê-los honrado sempre e os sustentado enquanto eram dependentes. Para completar, de zelar pelos netos sentimentalmente, o que me é permitido.
Já nas proximidades do fim deste período aqui na terra, posso repetir meu agradecimento a Deus por ter chegado até aqui sob a privação quase total de uma faculdade que é, talvez, a segunda mais importante entre os cinco sentidos humanos, acredito: a audição. O dia em que um otorrinolaringologista me disse que sou um ser diferenciado por estar, na época, cursando o superior e estudando outro idioma, senti-me encorajado a seguir em frente e ultrapassar ainda mais determinado as linhas divisórias que ficam entre a humilhação e a depressão. As palavras dele serviram para o fortalecimento de minhas convicções interiores sobre o seguinte: o que nos é tirado tem recompensa, talvez até em dobro.
Citei este episódio para fortalecer meu sempre desejo e sustentáculo de liberdade, condição que dela não abro mão, até porque não estou nada preocupado com biografia, tenho que prestar contas a Deus e Ele é o Ser Determinador do que faço hoje e farei amanhã ou em outro dia que, por desejo D’Ele, continue a viver. Agora mais do que nunca porque já sei como será o que vem por aí. Por inúmeras vezes me recuei quando era desafiado a seguir em frente. Os fracassos seguidos não me assustaram, pelo contrário me dão a certeza de que chega de ser passivo. Agora o clamor pela defesa dela, a liberdade, me impulsiona a força e me diz: “Com esta idade toda, tu vais acovardar?”
Não, não vou! Sou
outro José, me apresento e já posso encerrar porque o recado foi dado. E o complemento: não escrevo uma linha para
agradar a ninguém. O motivo de agora não é político, mas em defesa de minhas
plenas certezas. O tempo gasto para
aprender foi longo demais. Se errado estiver quem vai pagar sou eu mesmo. Só não
quero ser cobrado por omissão.
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