Estamos
num sábado cedo, dia em que o “pau quebra” em Itabira, como diz um amigo vizinho
do andar de cima. Para esquentar mais, a data é a uma semana das eleições. O barulho de
vozes e sons de altos-falantes retumba do chão às montanhas pulverizadas.
Bandeiras da Itabira sofrida e pisoteada tremulam nos ares. No meio delas o
número que pode, finalmente, mudar tudo, o 40.
Aproximo-me, a pé, de máscara e, portanto, irreconhecível, como a própria multidão. Vejo milhares de pessoas em ânimo redobrado, mais do que ontem e anteontem. Alguém me reconhece e pergunta: “E aí, vamos ganhar?” A pergunta dele é tão cheia de ansiedade, que engole em seco e fica boquiaberto, esperando que eu enfie a mão no bolso e lhe estenda o resultado das eleições. Saúdo-o com efusão e lhe faço um sinal positivo.
Afasto-me alguns metros e observo a multidão. Ouço, imaginariamente, o medo de alguns, mas o comportamento da militância chega a um delírio reconfortante. Faço uma comparação e a balança pesa a favor dos Marco. Penso com meus botões e fechos: esta é a maioria silenciosa que vai explodir domingo que vem.
“A turma do lado de lá tem carros demais ‘adesivados’ e barulhentos”, diz um transeunte. Trata-se de uma frente armada pela reeleição da própria frente, a todo custo, não apenas para promover a do candidato. Instala-se uma desigualdade de condições cruel como nas corridas de Fórmula 1: eles largam na primeira fila e nós na última. A comparação é algo quase infinito: máquina administrativa x sonho de liberdade; poder econômico esmagador x batalhadores pelo futuro das novas gerações.
Estamos na passeata dos indignados, desta que, repito, é a maioria silenciosa. Semblantes tapados e pernas agitadas seguem a rota traçada. Como nas vias-sacras religiosas — as que se realizam neste momento são cívicas — o cortejo de milhares se detém para ecoarem-se discursos inflamados. Não faltam razões, temas, metáforas, metonímias e apelos. O lado de lá quer continuidade da inércia; o lado de cá deseja a revolução com as armas do voto livre e secreto.
Não vou tapear a mim mesmo. Por isto resolvo escrever estas palavras e
perguntar: esta é mesmo uma revolução ou apenas uma revolta com tigres de papel? Fantasia ou realidade? Derrubamos a bastilha da
“´prefeitura particular" de Itabira? Decapitamos marias antonietas, que nos impediam de alcançar igualdade,
liberdade e fraternidade, ou apenas exibimos cenários cínicos? A resposta será
dada por cada um dos soldados que ganharam a primeira batalha e vao continuar participando da luta. A guerra não acabou e os guerreiros não podem descansar as armas.
A vitória de Marco Antônio Lage, de Dr. Marco Antônio Gomes, da equipe de coordenadores, do marketing e dos verdadeiros itabiranos ultrapassou os limites da imaginação. Mas há uma montanha de desafios a ser enfrentada ainda com vistas à anunciada exaustão das minas em 2028, a mesma que o governo, ou desgoverno, dela fez ouvidos de mercador. O foco da batalha deles: asfalto e reasfalto. A realidade: futuro. O povo não é bobo. Conclamo a sociedade civil organizada, a mesma que entrou em ação nos anos 1970 e fez Itabira ser consagrada como a primeira Cidade Educativa do mundo, a executar este papel.
Não sou porta-voz autorizado, nem pelo prefeito, nem por quem quer que seja, para transmitir informações. Apenas, de acordo com meus anseios, faço prognósticos e sei que a terra pode tremer pelo bem de Itabira. A gastança não vai continuar, escrevo e assino por mim. Fim da era dos abusos, do esbanjamento e do impudor. Quem não tem vergonha na cara que se retire.
A ilha chamada Itabira, cercada de barragens por todos os lados, precisa ser livre para crescer e desenvolver-se. A água potável e sem lama tem que cair abundantemente nos reservatórios de todos para, também, atrair investidores. As placas “rotas de fuga” necessitam ser transformadas em “caminhos do progresso”. Até a cínica frase “Eu amo Itabira” exige de nós uma mudança para “Eu morro por Itabira”.
Encerro, plagiando John Kennedy, ex-presidente dos EUA nos anos 1960: “Não pergunte o que Itabira pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por Itabira”.
José Sana
20/11/2020
Como sempre, palavras certas na hora e lugar...
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