sábado, 25 de março de 2023

ELES COMEM PIZZA. NÓS ALMOÇAMOS E JANTAMOS CPIs



O moço garboso, com fome,  entra numa lanchonete em qualquer cidade brasileira, acho que em  Itabira mesmo, e se dirige a um atendente:

   Me dá uma CPI...

— Simples ou composta? Pequena ou dupla? — responde e pergunta o garçom.

— Mistura tudo e me dá a CPI, moço!

 

A seguir, aparece uma garota vestida a caráter da moda, parafusos para tudo quanto é lugar de pendurar, e  faz o seu pedido:

 

— Você tem CPI?

  De comer ou de beber? De comer só temos de frango ou bacalhau.

  Embrulha uma de frango e duas de bacalhau... quentinhas! Quanto tenho de pagar?

  Veja lá no caixa, por favor!

 

Assim está o Brasil hoje: CPI pra lá, CPI pra cá, em todo lugar só se fala e se ouve a sigla sendo pensada, falada e gritada. Tem de comer, de beber; às vezes faz bem, às vezes faz mal; vomitam ou têm diarreia; dor de cabeça é mais comum; mas a maioria está adorando entrar numa igreja e ver o palestrante homenagear a CPI.

 


Nas câmaras de municípios de todo o país o prato do dia não varia das casas de alimentação física e também é este: “Vou pedir uma CPI”, “Quem assina na minha CPI?” “Depois dessa CPI temos de fazer outra CPI”. A palavra se tornou mágica, amedronta às vezes, mas na verdade é algo oco, sem contexto consistente.

 

Segundo documentos extraídos das constituições Federal, Estadual e dos Regimentos das Câmaras  Municipais,  a Comissão Parlamentar de Inquérito (nome por extenso é CPI) é uma investigação conduzida pelo Poder Legislativo, que transforma a própria casa parlamentar em comissão para ouvir depoimentos e tomar decisões suas, às vezes embasadas em pareceres técnicos, ou até conversas sem pé nem cabeça, mas na maioria sérias.

 

E agora fica claro o que já era sabido desde o meu tempo de vereança, de 1973 a 1982:  na esfera municipal o nome correto da  palavra de ordem, hoje, é Comissão Especial de Inquérito (CEI) ou Comissão Parlamentar Municipal de Inquérito (CPMI). Fica, portanto, feito o lembrete importante  porque o impacto é melhor e o cardápio das lanchonetes avança na esfera gastronômica. Ouvi dizer que tem CPI à la carte em restaurantes itabiranos.

 

E    não  precisamos mais repetir o sentido da palavra “parlamentar” que, além de função de  senador, deputado, vereador, pode ser de um grupo que discute, parlamenta, conversa fiado e mostra responsabilidade ou o contrário. Não executa, portanto.


Então, neste nosso país complicado, se alguém for a uma das casas legislativas, o que vai encontrar, pode ser, talvez, palavras bonitas, algumas proferidas por "ruis barbosas" meias-bocas ou saídas da inteligência de  grandes oradores, ou de línguas que retumbam, gaguejam, enquanto ninguém presta a atenção em ninguém. 


O assunto mais interessante passa a ser algo preparado por fulanos de tal tipo “negocinho”, carimbado para leiloar projetos proibidos como chantagens, conluios, trocas-trocas. E pode consistir na oficialização de valores virados de cabeça para baixo ou de pernas pro ar.

 

A hora da esperteza chegou: “Macaco velho não enfia a mão em cumbuca”, um dos primeiros sinais de vozes populares que  jorram da chamada  boca pequena.  Se alguém está sabendo que a PF investiga, há uma certa esperança de bons ares para o povo animar, mas ter a certeza, nunca! O Judiciário representa cada um de nós mas hoje balança  o prestígio e precisa recuperá-lo para o bem geral da nação, desculpem-me a cacofonia.

 

Nos parlamentos, hoje em dia prefiro que CPI seja mesmo um copo de bebida saborosa, tendo acompanhamento de salgado fino ou não, pode ser um creme de palmito  ou  empada de  bacalhau ou torresmo frito, engordurado e soltando fumaça. Se for a própria pizza que os parlamentares apreciam, que se entalem e se engasguem caso seja adotada a prática criminosa


A mais saborosa — para eles — a poção de CPI das caladas de noites, merece fiscalização pois em outras casas da cidade e do país, cada um de nós é pisoteado, esmagado e chutado como uma barata seca, até o sono dos inocentes lhe será surrupiado.

José Sana

25/03/2023

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