quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Sem notícias o mundo não anda


* Em 1965, sob o "desamparo" da ditadura, trabalhei no Diário de Minas, extinto jornal que circulava a partir de uma redação na Praça Raul Soares, em Belo Horizonte, e era considerado a melhor escola de jornalismo do estado.

* Aprendi no jornal que 90% das notícias apuradas — e nem todas estavam ao alcance da imprensa — iam para o lixo, ou seja, não eram levadas ao conhecimento do público. Notícia divulgada era somente a espalhafatosa ou considerada mais importante quando era proveniente de fonte oficial... já que estávamos na ditadura.

* Como repórter policial, andava o dia todo, desde as 10 horas da manhã. À tarde, ou mesmo noite, chegava à redação e começava a redigir as matérias. Durante cerca de três meses, todas as minhas matérias eram arquivadas pelo copidesque.

* Certo dia, o jornal estampou na primeira página uma matéria que produzi: “Deu zebra no trânsito” era o título da notícia. Ela se referia ao lançamento de faixas parecidas com zebras no chão de ruas, avenidas e praças, as quais até hoje representam o sinal para pedestres. Fiquei quase uma semana sem dormir de satisfação.

* Hoje em dia, qualquer notícia sem importância é transformada em matéria relevante. Basta fazer como um bom cozinheiro faz com o feijão com arroz: um tempero bem feito não faz mal. A partir daí, a imprensa começou a manipular o pensamento humano. Muita gente vive hoje pensando com a cabeça da imprensa. A Rede Globo é a principal manipuladora de pensamento no Brasil, quiçá em quase todo o mundo.

* E assim caminha a humanidade. Da mesma maneira que pensamos com a inteligência de outro, vivemos a copiar pensamentos daqueles que são chamados de gênios. “No meio do caminho tinha uma pedra/ tinha uma pedra/ no meio do caminho tinha uma pedra/ no meio do caminho tinha uma pedra”. Se essa primeira estrofe de um poema de Drummond fosse escrita por mim, jamais seria famosa e recitada em cafés da moda ou em eventos importantes. Mas quem escreveu foi Carlos Drummond de Andrade, o que muda tudo.

* Uma notícia sensacional é o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) deixar São Sebastião do Rio Preto sem campo de futebol durante quatro anos. O futebol é uma das mais importantes práticas que melhoram a vida da pequena cidade. Por falta dele, adolescentes e jovens migram para as drogas. Quatro anos é tempo suficiente para tirar um jovem da sociedade e mergulhá-lo no caminho errado. Para esse pobre escriba, o DER é um órgão criminoso. Mas para quase o resto do mundo, é natural, normal.

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