quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

E se lá foi mais um amigo: Márcio Rubens Prado


Moro em Itabira há 45 anos, fato que permite dizer que sou itabirano. A isso se soma o título que recebi, em projeto do amigo vereador Raimundo Afonso de Araújo Lima, de cidadania honorária. Aprendi a gostar de Itabira,  mas faço restrição a um fato estranho: aqui ninguém morre. Diria o eventual leitor que, então, a cidade é notável, boa, genial, uma espécie de reduto da vida eterna. Mas preciso completar a frase: aqui as pessoas desaparecem.

Isto mesmo: somem, se diluem. Quantas e quantas vezes passo por alguém na cidade, quase sempre uma senhora, e pergunto pelo  marido. Imediatamente vem uma resposta chocante, seca e lúgubre: “Ele morreu”. Mas que diabo, digo eu, estive com ele na rua há poucos dias. A cara limpa continua a confirmar: “Morreu, sim, e foi de repente, do coração”. Lembro-me daquela frase de Nelson Rodrigues: “De manhã a mulher estava velando o marido e à tarde na porta de sua casa chupando chicabom”. Que indiferença!

Já estive, certa vez, no Cemitério da Paz, e lá encontrei um livro com os nomes de pessoas que foram sepultadas ali. Fiquei estupefato, inerte, como um poste, olhando para o nada, pensando sem querer: mas fulano? Como? e via nomes de  outros e outras que moravam agora naquele lugar frio, triste a praticamente abandonado, transformando-se de gente que existia em apenas uma lápide numerada. Foi aí que concluí de mim para mim que nesta cidade os seres viram éter.

Neste quesito, Belo Horizonte é bom para viver. Se a gente não vai aos cemitérios não fica sabendo quem morreu, apesar de, em encontros esparsos, com os amigos de sempre, ter que ouvir aquela frase que detesto, odeio, me mata: “Você sabe quem morreu?”  Em  Belo Horizonte, hoje, quarta-feira, 8 de janeiro, faleceu um amigo meu, ex-colega de colégio e de trabalho na imprensa da Capital. Fiquei  sabendo por outro amigo que era Márcio Rubens Prado. Morava e estudava em Guanhães, onde permaneci por dois anos, a terra natal dele, quando o conheci. Desde quando me disse que queria ser jornalista nos tornamos amigos e o procurava para conversar, pois queria ser jornalista também.

Márcio Prado, apesar da aparência nova, era mais velhoque eu, confirmo agora, 11 anos. E não parecia. Morava ele numa rua perto do então Ginásio Estadual de Guanhães, hoje Escola Estadual Odilon Behrens, onde estudamos. Enquanto os outros colegas jogavam botões e futebol, ou saíam com estilingues, ele estava envolvido com os seus jornalzinhos. Os seus bons textos eram comentados em várias salas de aula, principalmente pelo professor e então futuro deputado Jairo Monteiro da Cunha Magalhães.

Antes de vir para Itabira, bati na porta do jornal Diário de Minas, em BH, consegui emprego, e lá fiz amizade com toda a turma de repórteres. Precisava deles, pois o meu estágio teve zero de salário. Fiquei seis meses trabalhando, indo a pé da Pampulha à Praça Raul Soares, e sem dinheiro para o lanche. Por grande coincidência, fui encontrar Márcio Prado, que me davas aula de técnicas de reportagem e ainda dividia o sanduíche comigo. Também  me  enchia de estímulos: “Está na hora de ir ao Maurílio Brandão (diretor de Reportagem) e cobrar a sua admissão definitiva”, me disse um dia em que uma de minhas reportagens tinha sido publicada na capa do jornal.

Agora, chocado, não vou me lembrar mais de nossa convivência. Preciso me recobrar, pois ele foi gentil demais comigo e lhe devo muitos e muitos favores. Apenas, por enquanto, quero desejar que Deus receba com todas as honras que sempre mereceu o jornalista, cronista e grande escritor, meu amigo Márcio Rubens Prado.

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