Moro em Itabira
há 45 anos, fato que permite dizer que sou itabirano. A isso se soma o título
que recebi, em projeto do amigo vereador Raimundo Afonso de Araújo Lima, de
cidadania honorária. Aprendi a gostar de Itabira, mas faço restrição a um fato estranho: aqui ninguém morre. Diria o
eventual leitor que, então, a cidade é notável, boa, genial, uma espécie de reduto da vida eterna. Mas preciso
completar a frase: aqui as pessoas desaparecem.
Isto mesmo: somem,
se diluem. Quantas e quantas vezes passo por alguém na cidade, quase sempre uma
senhora, e pergunto pelo marido.
Imediatamente vem uma resposta chocante, seca e lúgubre: “Ele morreu”. Mas que
diabo, digo eu, estive com ele na rua há poucos dias. A cara limpa continua a
confirmar: “Morreu, sim, e foi de repente, do coração”. Lembro-me daquela frase
de Nelson Rodrigues: “De manhã a mulher estava velando o marido e à tarde na
porta de sua casa chupando chicabom”. Que indiferença!
Já estive, certa
vez, no Cemitério da Paz, e lá encontrei um livro com os nomes de pessoas que
foram sepultadas ali. Fiquei estupefato, inerte, como um poste, olhando para o
nada, pensando sem querer: mas fulano? Como? e via nomes de outros e outras que moravam agora naquele
lugar frio, triste a praticamente abandonado, transformando-se de gente que
existia em apenas uma lápide numerada. Foi aí que concluí de mim para mim que
nesta cidade os seres viram éter.
Neste quesito, Belo
Horizonte é bom para viver. Se a gente não vai aos cemitérios não fica sabendo
quem morreu, apesar de, em encontros esparsos, com os amigos de sempre, ter que
ouvir aquela frase que detesto, odeio, me mata: “Você sabe quem morreu?” Em Belo Horizonte, hoje, quarta-feira, 8 de
janeiro, faleceu um amigo meu, ex-colega de colégio e de trabalho na imprensa
da Capital. Fiquei sabendo por outro
amigo que era Márcio Rubens Prado. Morava e estudava em Guanhães, onde permaneci por dois anos, a terra natal
dele, quando o conheci. Desde quando me disse que queria ser jornalista nos tornamos amigos e o procurava para conversar, pois queria ser jornalista também.
Márcio Prado,
apesar da aparência nova, era mais velhoque eu, confirmo agora, 11 anos. E
não parecia. Morava ele numa rua perto do então Ginásio Estadual de Guanhães,
hoje Escola Estadual Odilon Behrens, onde estudamos. Enquanto os outros colegas jogavam botões e futebol, ou saíam com estilingues, ele estava envolvido com os seus jornalzinhos. Os seus bons textos eram comentados em várias salas de aula, principalmente pelo professor e então futuro deputado Jairo Monteiro da Cunha Magalhães.
Antes de vir
para Itabira, bati na porta do jornal Diário de Minas, em BH, consegui emprego, e lá fiz amizade
com toda a turma de repórteres. Precisava deles, pois o meu estágio teve zero
de salário. Fiquei seis meses trabalhando, indo a pé da Pampulha à Praça
Raul Soares, e sem dinheiro para o lanche. Por grande coincidência, fui
encontrar Márcio Prado, que me davas aula de técnicas de reportagem e ainda
dividia o sanduíche comigo. Também me
enchia de estímulos: “Está na hora de ir
ao Maurílio Brandão (diretor de Reportagem) e cobrar a sua admissão definitiva”,
me disse um dia em que uma de minhas reportagens tinha sido publicada na capa
do jornal.
Agora, chocado, não vou
me lembrar mais de nossa convivência. Preciso me recobrar, pois ele foi gentil
demais comigo e lhe devo muitos e muitos favores. Apenas, por enquanto, quero desejar
que Deus receba com todas as honras que sempre mereceu o jornalista, cronista e
grande escritor, meu amigo Márcio Rubens Prado.
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