quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Uma humilde análise sobre o porquê das drogas



É comum o quadro que vivi na rua  num dia da semana passada. Um amigo, desses que merecem nome de personagem, me grita do lado de lá, agredindo os ouvidos dos populares que  atravessavam  fora da faixa de pedestres a avenida João Pinheiro: “Oi, Zé do Burro, escreve sobre as mortes em Itabira!” — ordenou, assim, com cara de preocupado e sem os  cumprimentos de praxe. Dei-lhe um sinal de positivo, mas ele não se conteve, foi gritando cada vez mais alto, superando os decibéis dos ensurdecedores  carros de som comuns naquela atabalhoada avenida. Sem jeito, explicando que não escrevo mais em site nem em revista, quanto menos em jornais, ele citou o Blog Zé do Burro e Vice-Versa, e ainda disse que esse não tinha muitos seguidores, fato que todos sabemos, e que ele desconfia que é o único leitor.
 
Mesmo assim — pra quê escrever,  se não há quem leia? —, o personagem da rua, daqueles que não existem mais (tinha um leitor infalível e que perdi, o inesquecível  Barbosinha), cujos assuntos do seu dia a dia não interessariam a um só e escasso transeunte, queria que eu escrevesse alguma coisa. — Mas escrever sobre o quê? — questionei. Foi quando ele tocou no assunto  dos autoextermínios muito comuns em Itabira:  “Olha, um amigo meu se foi anteontem e hoje outro amigo. Duas pessoas queridas em uma semana, cara!”. E berrou nos meus já depauperados ouvidos: — “Duas pessoas, duas pessoas amigas numa só semana, cara!”

Ontem, 21 de janeiro, um navegador de internet, mais precisamente do Facebook, resolveu dar uns ataques meio sem rumo em um simples e inofensivo comentário meu a respeito de drogas. Ele acha que não devo meter a colher, acusou-me de ter a mente infértil (até gostei dessa hipótese porque ser estéril neste caso é mais seguro) e só não me chamou de Zé do Burro, o que seria uma intocável verdade. Mais burro ainda do que deveria ser, continuamos debatendo, eu me defendendo e ele jurando que nem tocou o meu nome, mesmo só havendo um Zé no assunto, e ele dando  mais tiros para todos os lados como um John Wayne quando encontra o bandido do filme.                                                                                                                                                                                            
 Diante de duas propostas, uma direta e outra desafiadora, resolvo agora  rabiscar algumas linhas, só que me veio um tema aparentemente diferente: drogas. Diria qualquer um que é a mesma coisa e concordo. Por que os seres humanos se suicidam? Por que usam drogas? Por que a depressão está na moda? Não me atrevo a entrar tecnicamente no assunto porque não tenho nem doutorado, nem mestrado, nem pós-graduação no tema, nem a mente fértil para imaginar uma lenda das mil e uma noites. Tenho, sim, a gaveta cheia de dissertações elaboradas por amigos e conhecidos que me confiaram, como editor de revista, seus trabalhos sobre tudo isso, páginas e mais páginas molhadas de suor, lágrimas e às vezes até com sangue.  Nesses belos  trabalhos acadêmicos, vemos de tudo, sempre se destacando aqueles embasados em vários autores de uma bibliografia extensa e rica e que sempre terminam o texto assim:  “Afinal, por quê? Por que esses problemas agora, agora, quando a vida já deveria ter os seus mistérios desvendados?” Ficam, portanto, arguiições e não soluções.

 É claro que não vou dar respostas, pois não as tenho.  Não sou o tal, não pretendo ser e sei lá, acho que me sobra  apenas o direito de rabiscar o que quero  como um Zé do Burro ou Zé Ninguém. O certo, quem me conhece sabe, que escrevo para o povão. Não me interessa o povinho. Abro um parênteses e explico que povão é a multidão que pensa; povinho são os que dizem (ou será que rugem, mugem, uivam?) que este está errado, aquele não sabe o que diz?  Fecho o parênteses e digo que prefiro, então, a chamada boca pequena (mas é grande demais)  que, se não entende do assunto, não mete a colher. E não importa que se adote o senso comum, mas se diga pelo menos algo que pode ser analisado à luz da razão e da lógica. Contradição? Acho que não.

O que é a razão? Será um sanduíche de mussarela com pão de forma, ou uma banana prata ou caturra crua ou cozida? Para mim basta este conceito: razão é o que tem fundamentos, exala um cheiro de verdade. Para saber o porquê de tudo, temos que saber as origens, isto principalmente: o que somos? De que somos feitos? Por que somos feitos dessa forma? De onde viemos? Para aonde vamos? Resumindo: a nossa identidade segura, correta, verdadeira, sem talvez, pode ser, acho, acredito e outras dúvidas menos cruéis.

Este mundo não é o nosso definitivo mundo. Se fosse nada passaria e nem seríamos o que somos: descartáveis, mutáveis, mutantes. As afirmações da razão, ou da lógica, podem ser buscadas nos próprios seres mais inteligentes. Por exemplo, Lavoisier, químico francês, criou uma lei incontestável: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Não vou buscar em qual livro está essa norma intocável, aqui não se trata de um trabalho técnico, ou um artigo de pós-graduação, ou uma dissertação de mestrado ou doutorado.

Se este mundo é mutável, transformativo, é certo que ele era apenas uma pitada de energia no início e vai se encaminhando para uma nova mudança no decorrer do tempo. É ou não é uma lógica? Quer dizer , então, que o nosso planeta foi feito para evoluir, crescer, melhorar, transformar, seja passando ou não por caminhos tortuosos. Ao se sentir fora de seu estado natural, o ser humano não se contenta. Nem tudo é compatível com a sua aspiração.  Se tem uma oportunidade, faz o que a sua mente lhe requer: muita exigência mental, suicida-se; tem uma predisposição de encontrar uma saída, usa drogas porque elas levam o ser ao clima cósmico; não vê saída e se mergulha em si mesmo, sem iniciativa, então, deprime-se. E há os acomodados que se instalam em religiões, seitas, doutrinas, ciências, ou se divertem com a procura tenaz e cada vez mais inquietante. 

Não é definitiva a minha análise e nem é uma lei como as outras leis — de  Isaac Newton, Antoine Lavoisier, Arthur Schopenhauer , George Bernard Shaw, Augusto Frederico Schmidt, Carlos Drummond de Andrade com ciência, filosofia e poesia etc. e tal — mas ela tem amparo em muitas outras teses e, ainda mais, conta com o apoio das religiões, principalmente evangelhos cristãos. As religiões, por mais que sejam condenadas, têm seus quês de verdade e até o ateísmo tem lá as suas filosofias intrigantes. 

Por enquanto, prefiro ficar por aí. Como diria um oficial de cartório, ou um juiz de direito, “salvo melhor juízo”. E que ninguém pense que procuro seguidores. Tão pouco quero saber de me consideram de mente infértil.

Obrigado.



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