sábado, 11 de janeiro de 2014

Nova anatomia do corpo humano (será isso mesmo?)

O corpo humano não é mais o mesmo. No tempo em que aprendi as primeiras letras, em minha terra natal, São Sebastião do Rio Preto, não me cansei de repetir e de ouvir a professora dizer: “O corpo humano é dividido em cabeça, tronco e membros. A cabeça se divide em face e crânio. O tronco em pescoço, tórax e abdome. Os membros se desdobram em superiores e inferiores. Os membros superiores são divididos em ombro, braço, antebraço e mão. Os membros inferiores são divididos em quadril, coxa, perna e pé”. Era essa a nossa aula de ciência que não saía do lugar.

Chego à segunda parte do Curso Fundamental, em Guanhães, onde morei durante dois anos, e a descrição se prolonga um pouco mais quando o professor aparecia com um mapa do corpo humano e apontava cada parte dele. Era somente isso de acréscimo. Só nos impressionávamos quando era mostrada uma caveira. Coitado do aluno magrinho! Quando era aberta a cartolina, a sala inteira olhava para o Wilton, uma espécie de vampiro de filme de terror.

Ainda na segunda parte do Fundamental, dois anos depois, estava eu em Conceição do Mato Dentro, quando nada acontecia de novo. O mesmíssimo  corpo humano, as mesmas figuras, não tinha mais o Wilton, mas sim um outro, o Pedro como sósia de Frankenstein, que ficava desassossegado quando dávamos na aula de Ciências e mais especificamente no instante de exposição das caveiras. Uma pena, os colegas não o perdoavam. Mas o mesmo professor, cujo nome não vou revelar porque ele está lá na sua terra vivinho da silva, que lecionava, além de no Ginásio São Francisco, de  meninos e rapazes, mas também no Colégio São Joaquim, de meninas e moças.

Eis que durante uma aula, contavam as meninas mais “pra frente”, como se falava, que uma Maria de Tal, meio voada, resolveu arguir  infantilmente o mestre: “— Professor, o que é ânus?” Todos tremeram em cima dos sapatos porque a época não escondia o puritanismo, mas  o nosso cientista mantinha a pose de rapaz sério. Naquele momento, embora de rosto  mais vermelho que pimentão, não titubeou e cravou a resposta em cima da mosca, no seu estilo bem peculiar: “— Ânus é um órgão localizado na parte inferior do corpo humano, também denominado cuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu”. Foi verdade isso e contei para apenas registrar uma passagem engraçada daquele tempo, década de 1960.

Mais um pouco de tempo e em sala de aula, em Belo Horizonte, no Colégio Anchieta, um professor muito engraçado do Curso Científico, ou Médio, disse com todas as pompas: “O corpo humano é dividido em cabeça, tronco, membros e radinho de pilha”. Toda a sala de adolescentes, da faixa de 16 a 18 anos, veio abaixo na gargalhada. Era uma verdade interessante. Os radinhos, especialmente os japoneses, invadiam o mercado e todos os cidadãos pareciam usá-lo.

Agora, estamos na década de 2010, vou saltar um bom período de nossas vidas e, pronto. Sou  professor, mas não de  Ciências, sim de História. Ouço da sala vizinha, que fica aberta quase o tempo todo porque os alunos são os mandantes (eles entram e saem sem parar) algum aluno engraçadinho definir o mesmo tema: “O corpo humano é dividido em cabeça, tronco, membros e aparelho de telefone celular”.  Depois que ri pra valer desse garoto espertalhão e de sua piada, completei nos meus pensamentos: e IPad, Tablet, PC e outros equipamentos que vão tomando conta do mercado e do mundo.

Fim. Contei a história toda. Desafio o leitor, se esse existir de verdade, que eventualmente me lê, a sair por aí e observar: caso encontre alguém sem um dos aparelhos citados e não o estiver usando, anote seu nome e me apresente. Só para ilustrar: passamos, em família (os que estavam presentes este ano), na Pizzaria Apricci,  em Itabira, o reveillon. No salão apinhado, de um lado e de outro, observei um rapaz e uma moça. O casal, portanto, plenamente  frente a frente, depois da virada do ano, dos abraços e beijos de praxe praticados por todos os clientes da pizzaria. Como sou um tanto quanto curioso, o mal de velhos jornalistas, resolvi conferir o que faziam no IPad. Simpáticos e gentilmente eles me mostraram seus SMS:

— Feliz 2014 pra vc — mandou o rapaz.
— Igualmente pra vc — respondeu a moça.

E a vida continua...

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