Não queria começar 2014 com uma página triste. Todos desejam a
todos um “Feliz Ano-Novo” e sou obrigado a me render a um início trágico que
nos levou ao cúmulo do sentimento dolorido.
E nos curvamos diante da realidade da vida para levar os dias na
ilusão ou na segurança, na fé ou na certeza absoluta.
Antes, pensava em dar a partida deste ano com um outro tema: o centenário
de nascimento de meu Pai. Em 27 de fevereiro próximo faria ele 100 anos se aqui
estivesse. Foi-se cedo demais, aos 75. Ele partiu em 23 de março de
1989.
Muito mais cedo, porém, aos
65, viajou o meu amigo e concunhado Carlos Roberto Ferreira. Casado com
Marlene Moura Morais Ferreira, deixou ainda os filhos Marlos e Mayra, e três
netinhos. O desenlace ocorreu no dia 31,
último dia do velho ano que se apagava também, em Mariana. O sepultamento ocorreu no
primeiro dia de 2014, em Itabira.
Sou muito desleixado e fraco para escrever acerca de fatos
lúgubres. Minha característica, que faz superar a falta de argumentos ou que me
deixa melhor diante da literatura humana, é o humor. A frase que aprecio
escrever é esta: a vida é uma piada. A extensão do termo não cabe para a vida
do meu amigo Carlos, que a via de outros ângulos com o foco em um futuro somente dele, real por sinal.
Como acontece com
qualquer ser vivente, cedo ou tarde, ele faleceu, no seu caso meio cedo ainda. Deixou um conformismo
no questionamento de todos, resumido na frase “estava sofrendo muito”. Vale, no
entanto, acrescentar que Carlos se conteve, sim, calado e solitário, nas suas
reflexões, salvo uma ou outra escapulida de nervosismo compreensível que teria
ocorrido eventualmente. Mas duvido.
Há quem diga que o doente deve gritar para o mundo o seu
sofrimento. Mas ele, por princípio de vida, se calava. Acho que se questionava de si para si com galhardia guerreira: "O que tem o mundo a ver com o meu tormento? Apenas o pessoal de sua
casa sabia do câncer que o açoitou e rondou seus organismos durante anos a fio,
calculo uns 15 ou mais. Assim, outros familiares e amigos mais próximos foram, aos poucos, tomando
conhecimento. Entre o primeiro diagnóstico e o último atendimento médico, todas
as notícias que teve que ouvir eram as mais melancólicas e cada vez mais desoladoras, como se fossem tiros queimando o peito.
Consciente ou inconscientemente, ele praticava o grande segredo apontado
por especialistas da alma, que se resume em não aceitar, mesmo que seja uma inquestionável
“verdade” dos homens a fatalidade. O nosso inconsciente, segundo os maiores entendedores do
tema, não é analítico, apenas executa as ordens que lhe são enviadas pelas
nossas próprias convicções. Além disso, há a lei
irrevogável da atração, que conduz ao nosso canal interno o bem ou o mal que
pensamos de nós mesmos ou do mundo.
Não fui eu amigo como pensam as pessoas de meu grande amigo
Carlos, e explico porquê. Ao saber de sua moléstia e, principalmente, ao tentar
entender o seu estilo de combatê-la, fixei-me em não atrapalhar a fórmula
combatente que ele utilizou com heroísmo. Hoje, confirmo que tinha ele uma rocha quase invencível dentro de
si e a colocava intocável para bloquear as atrocidades que enfrentou e rompeu com
acelerada capacidade de ação, repito consciente ou inconscientemente.
Nós, humanos, desconhecemos as nossas forças internas e não
utilizamos perfeitamente bem o poder imenso que Deus nos concedeu para mudarmos
o curso das coisas. Corremos depressa ao médico diante do mínimo incômodo que
nos pega. Seguimos à risca uma recomendação séria da sociedade médica, que
aborda muito a questão da prevenção. Não sou contra tal atitude. Sou pela regra
que prevalece ao nosso redor, somada ao contundente ato de não aceitar o mais
elementar alarde que vem dos diagnósticos. Mandar forças convictas para a alma:
foi esse heroísmo que o nosso querido amigo pôde e soube aplicar.
A ele o mais terno agradecimento de quem entendeu a sua
mensagem, além de deixar toda a admiração aos familiares, a partir de sua
inseparável Marlene e de seus filhos
Marlos e Mayra, sem me esquecer de irmãos, irmãs e outros cunhados,
especialmente Marta, por terem colaborado para que se estendesse mais e mais a
sua jornada. E olhem que tal galhardia não atrapalhou em nada a humildade que
ele colocou em prática durante todos os seus dias, de momentos jubilosos aos
mais sombrios. Ele foi bom sem nenhum favor, mesmo porque dizem que quem se foi
torna-se cheio de virtudes. E este não é o caso dele.
A vida não acaba, mas continua sempre, até para quem resolveu
partir e antes da hora. O mesmo consciente que recebeu ordens tácitas para mostrar
a força e evitar a interrupção da caminhada continua em ação. É claro que teve que ceder
pois, afinal, era ele contra o mundo
quase todo. Por isso é bom que todos saibamos encher de bons pensamentos as
nossas almas em direção ao amigo. Aproveitando o ensejo, a outros que se foram
e que se vão.
Vou encerrar com um agradecimento meu, especial, porque seu
exemplo me ajuda a crescerem as minhas crenças concretas.. Obrigado, Carlos, pela sabedoria de vida que nos transmitiu. Deus está com você sempre, assim
como aqui conosco para nos confortar e nos fortalecer.
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