quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Uma vitória inesquecível contra a fatalidade

Não queria começar 2014 com uma página triste. Todos desejam a todos um “Feliz Ano-Novo” e sou obrigado a me render a um início trágico que nos levou ao cúmulo do sentimento dolorido. E nos curvamos diante da realidade da vida para levar os dias na ilusão ou na segurança, na fé ou na certeza absoluta.

Antes, pensava em  dar  a  partida deste ano com um outro tema: o centenário de nascimento de meu Pai. Em 27 de fevereiro próximo faria ele 100 anos  se  aqui  estivesse. Foi-se cedo demais, aos 75. Ele partiu em 23 de março de 1989.

Muito mais cedo, porém, aos  65, viajou o meu amigo e concunhado Carlos Roberto Ferreira. Casado com Marlene Moura Morais Ferreira, deixou ainda os filhos Marlos e Mayra, e três netinhos. O desenlace ocorreu no dia 31, último dia do velho ano que se apagava também, em Mariana. O sepultamento ocorreu no primeiro dia de 2014, em Itabira.

Sou muito desleixado e fraco para escrever acerca de fatos lúgubres. Minha característica, que faz superar a falta de argumentos ou que me deixa melhor diante da literatura humana, é o humor. A frase que aprecio escrever é esta: a vida é uma piada. A extensão do termo não cabe para a vida do meu amigo Carlos, que a via de outros ângulos com o foco em um futuro somente dele, real por sinal.

Como acontece com qualquer ser vivente, cedo ou tarde, ele faleceu, no seu caso meio cedo ainda. Deixou um conformismo no questionamento de todos, resumido na frase “estava sofrendo muito”. Vale, no entanto, acrescentar que Carlos se conteve, sim, calado e solitário, nas suas reflexões, salvo uma ou outra escapulida de nervosismo compreensível que teria ocorrido eventualmente. Mas duvido.

Há quem diga que o doente deve gritar para o mundo o seu sofrimento. Mas ele, por princípio de vida, se calava. Acho que se questionava de si para si com galhardia guerreira: "O que tem o mundo a ver com o meu tormento? Apenas o pessoal de sua casa sabia do câncer que o açoitou e rondou seus organismos durante anos a fio, calculo uns 15 ou mais. Assim, outros familiares e amigos mais próximos foram, aos poucos, tomando conhecimento. Entre o primeiro diagnóstico e o último atendimento médico, todas as notícias que teve que ouvir eram as mais melancólicas e cada vez mais desoladoras, como se fossem tiros queimando o peito.

Consciente ou inconscientemente, ele praticava o grande segredo apontado por especialistas da alma, que se resume em não aceitar, mesmo que seja uma inquestionável “verdade” dos homens a fatalidade. O nosso inconsciente, segundo os maiores entendedores do tema, não é analítico, apenas executa as ordens que lhe são enviadas pelas nossas próprias convicções. Além disso,  há a lei irrevogável da atração, que conduz ao nosso canal interno o bem ou o mal que pensamos de nós mesmos ou do mundo.

Não fui eu amigo como pensam as pessoas de meu grande amigo Carlos, e explico porquê. Ao saber de sua moléstia e, principalmente, ao tentar entender o seu estilo de combatê-la, fixei-me em não atrapalhar a fórmula combatente que ele utilizou com heroísmo. Hoje, confirmo que tinha ele uma rocha quase invencível dentro de si e a colocava intocável para bloquear as  atrocidades que enfrentou e rompeu com acelerada capacidade de ação, repito consciente ou inconscientemente.

Nós, humanos,  desconhecemos as nossas forças internas e não utilizamos perfeitamente bem o poder imenso que Deus nos concedeu para mudarmos o curso das coisas. Corremos depressa ao médico diante do mínimo incômodo que nos pega. Seguimos à risca uma recomendação séria da sociedade médica, que aborda muito a questão da prevenção. Não sou contra tal atitude. Sou pela regra que prevalece ao nosso redor, somada ao contundente ato de não aceitar o mais elementar alarde que vem dos diagnósticos. Mandar forças convictas para a alma:  foi esse heroísmo que o nosso querido amigo pôde e soube  aplicar.

A ele o mais terno agradecimento de quem entendeu a sua mensagem, além de deixar toda a admiração aos familiares, a partir de sua inseparável  Marlene e de seus filhos Marlos e Mayra, sem me esquecer de irmãos, irmãs e outros cunhados, especialmente Marta, por terem colaborado para que se estendesse mais e mais a sua jornada. E olhem que tal galhardia não atrapalhou em nada a humildade que ele colocou em prática durante todos os seus dias, de momentos jubilosos aos mais sombrios. Ele foi bom sem nenhum  favor, mesmo porque dizem que quem se foi torna-se cheio de virtudes. E este não é o caso dele.

A vida não acaba, mas continua sempre, até para quem resolveu partir e antes da hora. O mesmo consciente que recebeu ordens tácitas para mostrar a força e evitar a interrupção da caminhada  continua em ação. É claro que teve que ceder pois, afinal, era  ele contra o mundo quase todo. Por isso é bom que todos saibamos encher de bons pensamentos as nossas almas em direção ao amigo. Aproveitando o ensejo, a outros que se foram e que se vão.

Vou encerrar com um agradecimento meu, especial, porque seu exemplo me ajuda a crescerem as minhas crenças concretas.. Obrigado, Carlos, pela sabedoria de vida que nos  transmitiu. Deus está com você sempre, assim como aqui conosco para nos confortar e nos fortalecer.

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