quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

A VIDA COMO ELA NÃO É. OU É MESMO?


A questão é exatamente esta: fomos sorteados para viver, depois de enfrentar longa fila como aquelas famosas do antigo INSS (acho que hoje melhorou com as senhas).

A fila andava. O que queríamos era uma oportunidade de viver no Planeta Problema. Fomos alertados: "Você vai pegar pesado, se quer passar no teste da evolução pessoal; se for reprovado, desce mais". Ficávamos indecisos: vamos, não vamos. Mas, num belo dia, resolvemos ir e nascemos dentro de um útero. Brotamos. Começamos a vida dura propriamente dita.

Quando a parteira nos pegou pelos pés, se tivesse alguém inteligente e incentivador na sala de parto teria dito: "Força!" Mas ninguém toparia ser tão valente assim. Dão os parabéns aos pais e dizem: "Lindo!" O lindo vai de peito aberto para as agruras do mundo.  Ao entrar na escola começa uma luta que nunca mais acaba. É por melhores notas no colégio; é pelos elogios dos professores;  é pela expectativa de uma prova, um Enem ou Vestibular. A vida se torna um vestibular ininterrupto. Chega a hora de definir o que seremos diante da sociedade: médico, advogado, dentista, professor, porteiro, faxineiro, balconista, coveiro, desempregado, nada... Se perdemos tempo, ficamos velhos e nada alcançamos.

Chegamos depois ao alto do morro, o momento em que começam os declínios e as lutas tornam-se  ainda mais complicadas.  Daí pra frente é que o bicho pega. Tornamo-nos frequentadores assíduos de hospitais, clínicas, consultórios médicos, farmácias. Melhor seriam os bares, botecos, festas. Mas a nossa presença nas áreas de saúde sobressaem.

Charge de Júlio Campos (Diário de Cuiabá)
Vai chegar a hora da despedida. Cada um corre da morte o máximo que pode. Seres humanos, sempre assustados, dizem, de olhos rútilos, de um para o outro: "Fulano faleceu!" O outro responde: "Puxa! De quê?" Sabe por que querem saber de quê? Está na cara: o sujeito tem medo deste "de quê" mais que de morrer.

Parece hipocrisia tomar o tempo para  velar um morto em 24 horas. Passado este “longo” martírio, esquecem rápido do pobre-coitado. É cruel! Antigamente havia o luto. Hoje, o velório vira festa, como riem e contam piadas! Na missa de sétimo dia quase não se lembram do grande lutador. Segundo Nelson Rodrigues, de manhã a viúva está velando o marido; à tarde é vista na porta de sua casa chupando chica-bom.

Só queria concluir: vivemos assim com medo da morte pelo simples fato cientificamente comprovado: não cumprimos a nossa meta, não executamos a função que nos foi delegada. Fazer o quê? — alguém pode perguntar. Resposta: vamos descobrir enquanto é tempo. Bora fazer alguma coisa por um mundo melhor.

José Sana

26/02/2020

Nenhum comentário:

Postar um comentário