Eu atravesso a rua e vejo um amigo que diz me ler em todas as minhas baboseiras escritas ou rabiscadas. Ele fala, explica, quanto mais tenta se ajeitar, mais se enrola. É um dos leitores mentirosos que tenho. Ou melhor, mentiroso sou eu, ele apenas faz parte do rol daqueles que gostam de agradar. Ele se mostrava completamente do meu lado mas na contramão dos meus pontos de vista. Então, não era um leitor.
Abri esta coluna de hoje para dizer que não eu mas outros precisam
ser lidos, embora quase ninguém é visto, sequer em manchetes. Daí o meu consolo
e, ao mesmo tempo, tristeza atroz. As pessoas precisam ler não somente os
textos, principalmente, livros bons e cheios de histórias verdadeiras,
literaturas fantásticas. Para se formar uma identidade coletiva é preciso que
ela comece individualmente e sejam vistos, estudados, pesados, milhares de
lados. O mundo é vasto. Ainda estamos numa fase em que há seres deduzindo,
concluindo, vendo apenas o cheiro da notícia. Em poucos minutos de deduções estufam o peito para dizer que são sábios, “os
intelectuais do Google”, como os qualifica um amigo meu.
Se ninguém me lê, talvez uns gatos pingados sejam exceção, e hoje
peço encarecidamente que façam isto: acreditem que a Barragem de Itabiruçu não
tem segurança. E parem de acreditar em conversa de “montante” e “jusante”. Esse
papo só serve para fazer boi dormir. Afinal, estão em jogo 120 mil almas
perdidas e achadas. Se aprenderam algumas lições...
A questão que leva o ser humano à falta de interesse por
informações extraídas do fundo de suas origens (não me canso de dizer que todo
fundamento está na causa, não há efeito sem causa) acrescenta a esse cidadão,
em sendo ele itabirano, uma situação um pouco mais complicada, porque esse
notório morador de nossa terra é um inerte.
Para explicar a passividade da gente de Itabira, recorremos a um
levantamento feito pela ilustre autora Maria Cecília de Souza Minayo, que
já mostramos e continuamos mostrando, ao lado de outros pesquisadores
históricos, em Documentário, no sexto capítulo:
“Como se pode depreender de diversos depoimentos dos
trabalhadores, Itabira, na visão deles, ‘é coisa de itabiranos’, dos quais eles
se excluem”. Acrescenta; “Os filhos desta
cidade são preguiçosos, sem iniciativa”. E mais: “Isso aqui vai voltar
ao que era porque os itabiranos não se interessam, não têm garra”.
No mesmo capítulo de Documentário, revelei a presença da
ex-primeira-dama francesa, Danielle Miterrand, em novembro de 2006, em Itabira,
quando sobrevoou a cidade num helicóptero cedido pela Polícia Militar. Ela
ficou estarrecida com a paisagem que viu: “Vi buracos, imensas crateras e não
posso compreender como essa população de cem mil almas consegue viver
calmamente entre tantos problemas”. Agora, numa pergunta minha: e Mariana? E
Brumadinho? E Itabira? E Itabiruçu?
Vou encerrar por aqui tentando explicar em duas palavras o que
os seres humanos daqui andam afirmando ser o significado de jusante (barragem
segura) e montante (barragem insegura). Prometi a alguns amigos que não
revelaria o que sei sobre aquela bomba atômica que rodeia Itabira, denominada
Itabiruçu, a Bomba Itabiruçu. Por enquanto vou apenas me desabafar e imitar
aquele conhecido ceguinho humilhado: “Jusante é a mãe!”
José Sana
Em 04/02/2019
Concordo com você.
ResponderExcluirLamentável o descaso das autoridades constituídas do município. A omissão de alguns pode causar a morte de milhares.