A explosão começou assim: o candidato ideal parecia ser o Bode Expiatório, mas
ele desistiu de enfrentar as urnas neste complicado ano de confusões. O Cabrito
não é lá nenhum bobo e resolveu se declarar disponível no mercado. A princípio,
seus adeptos, a cabritada arredia, deu apoio, fez barricada na rua, mas depois
apareceram outras dificuldades a enfrentar. Como na infalível lei de oferta e
procura, o velho de guerra se desvalorizou e chegou a quase zero na cotação da
Bolsa Caprina.
Mas produziu um efeito colateral destruidor: o Cavalo, a Égua, o
Jumento, a Onça, a Vaca, o Tigre, até o Gato, o Rato e o Gambá entraram para
valer na disputa, declarando-se cada um o futuro prefeito. A discussão
virou bagunça, transformando em zona a
casa da sogra do Cabrito, em sua sala especial de reuniões. E favoreceu em
muito a candidatura do dono do poder absoluto, Senhor Dinossauro, que ficou
feliz da vida. Já viu, não é? A falta de orientações no que dá!
Aí, surgiu o Macaco e resolve colocar ordem na casa da sogra.
Mesmo sabendo cada um dos prés (vamos chamar essa turma assim) que ficou
difícil para todos, ou seja, que os pretendentes deram com os burros n’água, o Mico resolve
contratar exatamente o Burro para ser o coordenador da bicharada, aquele que
resolve tudo numa patada só.
O Burro marca uma reunião com a turma dos “prés”. Esses comparecem
aos poucos, demonstrando que estão cabreiros. E ocorre, depois de esperar algum
tempo, a sua primeira palestra:
“Meus amigos e minha amigas, meu povo e minha pova” — faz um
suspense exagerado, engolindo em seco e esperando se acalmar o último miado do
Gato que, de olho no Rato, pretende tirar pelo menos um de seu caminho. O Rato,
que bobo não é, manja os olhares ameaçadores do rival, se esconde atrás da
Onça, esta, sim, todos têm medo dela.
Depois do suspense provocado pelo Burro, este contratado pelo
Macaco, começa, de fato, a reunião dos bichos em busca de consenso. O principal
desafio é conter a ambição, a vontade cruel e o egoísmo de um ser mais feliz
que o outro, ou seja, de acordo com a ganância própria de todos os habitantes
do globo terrestre.
O primeiro pedido do Macaco foi o seguinte: “Preciso saber quem se
anunciou e se declarou e se ofereceu para ser candidato a prefeito? Quem assim
agiu, por favor, levante as mãos!” Imediatamente o auditório quase todo ficou
de patas pro ar, ou seja, todos haviam lançado a sua própria candidatura. E
estavam lascados.
O Macaco não vacilou: meteu o martelo na mesa, pediu silêncio (uma
barulhada imensa havia tomado conta da sala de reuniões em que a guerra estava
acontecendo) e deu a sua sentença: “Vamos obedecer a regra dos verdadeiros e
sérios homens públicos (ele disse homens, mesmo sabendo que esses estão em
processo de depreciação quase coletiva). Diz a regra, segundo Rui Barbosa, que
um candidato nunca se lança. Entenderam?”
Um silêncio ensurdecedor tomou conta da sala de reuniões. Foram
vistos dezenas de rabos se enfiarem entre as pernas. Cada um saiu de fininho.
Foram todos embora e não sabem se haverá o capítulo seguinte. De qualquer
maneira, como diz com maestria o Professor Pardal, “vamos aguardar”.
Assessoria do Cabrito
Em 14/07/2020
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