Em Cabritolândia, capital dos bodes e dos cabras da peste, a família Cabrito Macho e Trabalhador faz entrega de capins e braquiárias desde os velhos tempos. Com tal experiência, o Mestre Bodão resolveu investir em outras cidades. A que achou mais interessante para o momento chama-se Itabirolândia, que a família conhece bem desde os tempos saudosos do Berra Lobo, bairro antigo da cidade, fundado na época do Campestre, onde os cabritos cuidavam da capina para a prefeitura.
O Cabrito tem
uma companheira trabalhadora, a Cabra Doida, que cozinha muito bem, com capim
ou sem capim. Por trás de um grande empreendedor tem sempre uma cabritona cheia
de boas ideias. No princípio, o Mestre resolveu fazer as entregas alugando moto
e motoqueiro. Ele não sabia pilotar. Depois aprendeu rapidinho. E ainda vai para a cozinha ajudar a companheira a fazer a sua “loroba” (palavra derivada do
dicionário caprino).
Os dois se
divertem enquanto trabalham. Este é um casal que deu certo, ao contrário dos
humanos que brigam mais que cão com gato. Eles contam causos verdadeiros e
interessantes. Por exemplo, o motivo que os fez iniciarem o novo
empreendimento é o tal vírus chamado Covid-19. Eles ainda fazem piada com a
imprensa que só diz “novo Coronavírus”. Perguntam: “E o velho
Coronavírus, onde está?" A Cabrita cai de rir e complementa: “Invenção
da imprensa preguiçosa de pesquisar, meu bem!”
Cabrito começou as entregas pegando caronas em motos |
Os cabritinhos,
que são muitos, cerca de dúzias, querem saber o porquê de estarem fechados os
restaurantes de Itabirolândia. O Cabrito manda que eles não espalhem a zoação
pelas ruas: “Meu filhote, senta aqui no
meu colo e vou te explicar. Têm coisas que não podemos falar. Vamos continuar
rindo desses imbecis, mas só aqui dentro de casa. Berrando e ganhando dinheiro dos babacas!”
O Cabritinho
Zezinho chamou os irmãos num canto e deu a sua explicação: “Os ditos humanos
resolveram combater um tal de vírus chinês com isolamento. Eles se enfiam até
debaixo das camas. Deixam sair pra ruas os seus carneiros bobos somente para buscar dinheiro ou pagar
contas nos bancos e lotéricas, onde se amontoam; para buscar mercadorias em farmácias, supermercados,
padarias e sacolões também; para entrarem nos restaurantes, nunca!”. Dois de seus irmãozinhos riram de rolar no chão e berraram numa altura
de perturbar a lei do trânsito da vizinhança. Depois, um deles perguntou: “O
senhor Coronga não entra nesses lugares? Por quê?” O mais jacu de todos
concluiu: “Deixa pra lá, senão o pai Cabrito não arruma dinheiro pra nós!”
Enquanto a Cabrita cozinha o Delivery espera a boia |
E lá vai o
Cabrito levar mais e mais comidas pro povaréu. Não apenas feita em casa, mas até de
outros restaurantes. Assim nasce uma profissão nova no mercado. Com um mês de trabalho, o
Cabrito tem dinheiro para pagar autoescola, aprender a pilotar e comprar uma moto novinha em
folha. Ele se diz herói porque enquanto os ditos humanos ficam pobres, os bodes
se enriquecem. É a lei da compensação. Em breve os racionais serão irracionais
e vice-versa.
Também surgem as torcidas organizadas do Coronavírus-19, que sonham com a chegada do Covid- 20, 21, até 1.000. Ou mais. E não vai faltar nada para a irracionalidade. Muito menos para o Cabrito
Delivery. Que se danem os babacas ex-humanos.
José Sana
24/07/2020
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