sábado, 25 de julho de 2020

SURGE UMA NOVIDADE EM ITABIROLÂNDIA: O CABRITO DELIVERY

Em Cabritolândia, capital dos bodes e dos cabras da peste, a família Cabrito Macho e Trabalhador faz entrega de capins e braquiárias desde os velhos tempos. Com tal experiência, o Mestre Bodão resolveu investir em outras cidades. A que achou mais interessante para o momento chama-se Itabirolândia, que a família conhece bem desde os tempos saudosos do Berra Lobo, bairro antigo da cidade, fundado na época do Campestre, onde os cabritos cuidavam da capina para a prefeitura.

O Cabrito tem uma companheira trabalhadora, a Cabra Doida, que cozinha muito bem, com capim ou sem capim. Por trás de um grande empreendedor tem sempre uma cabritona cheia de boas ideias. No princípio, o Mestre resolveu fazer as entregas alugando moto e motoqueiro. Ele não sabia pilotar. Depois aprendeu rapidinho. E ainda vai para a cozinha ajudar a companheira a fazer a sua “loroba” (palavra derivada do dicionário caprino).

Os dois se divertem enquanto trabalham. Este é um casal que deu certo, ao contrário dos humanos que brigam mais que cão com gato. Eles contam causos verdadeiros e interessantes. Por exemplo, o motivo que os fez iniciarem o novo empreendimento é o tal vírus chamado Covid-19. Eles ainda fazem piada com a imprensa que só diz “novo Coronavírus”. Perguntam: “E o velho Coronavírus, onde está?" A Cabrita cai de rir e complementa: “Invenção da imprensa preguiçosa de pesquisar, meu bem!”

Cabrito começou as entregas pegando caronas em motos
Os cabritinhos, que são muitos, cerca de dúzias, querem saber o porquê de estarem fechados os restaurantes de Itabirolândia. O Cabrito manda que eles não espalhem a zoação pelas ruas:  “Meu filhote, senta aqui no meu colo e vou te explicar. Têm coisas que não podemos falar. Vamos continuar rindo desses imbecis, mas só aqui dentro de casa. Berrando e ganhando dinheiro dos babacas!”

O Cabritinho Zezinho chamou os irmãos num canto e deu a sua explicação: “Os ditos humanos resolveram combater um tal de vírus chinês com isolamento. Eles se enfiam até debaixo das camas. Deixam sair pra ruas os seus carneiros bobos somente para buscar dinheiro ou pagar contas nos bancos e lotéricas, onde se amontoam; para buscar mercadorias em farmácias, supermercados, padarias e sacolões também; para entrarem nos restaurantes, nunca!”. Dois de seus irmãozinhos riram de rolar no chão e berraram numa altura de perturbar a lei do trânsito da vizinhança. Depois, um deles perguntou: “O senhor Coronga não entra nesses lugares? Por quê?” O mais jacu de todos concluiu: “Deixa pra lá, senão o pai Cabrito não arruma dinheiro pra nós!”

Enquanto a Cabrita cozinha o Delivery espera a boia

 Cabritinha Marizinha pegou um quadro negro, um giz e fez um traçado: “Os restaurantes têm que abrir meia porta (desenhou a porta); o faminto chega lá e encomenda o seu prato predileto, feito por cozinheiras, que usam metais e alumínios em tudo e têm as ajudantes também; eles colocam a tal boia dentro do cuité, ou marmitex, o que for e até aí a comida já passou pelas mãos de uns dez (desenhou a fila), da lavagem à cozinhada (desenha a cozinheira cheirando e provando o grude); depois vem o vendedor e pega, pesa, tampa, lambe as beiradas e entrega ao delivery, que pode ser o nosso paizinho esperto como coelho (desenhou o coelho correndo); o delivery pega a moto, na frente ou na garupa, e vai levar a encomenda pro bobo do tatu e madrugada; ao chegar ao destino, passa para a mão do dono ou dona da casa (desenhou o ato do recebimento); estes pagam com dinheiro ou cartão; depois levam a boia para a mesa comem como porquinhos, lavam tudo depois e pronto (desenhou a comilança). Aí imaginamos que o danado do Covid-19 seja bobo como o cidadão ou mais ainda que a autoridade que perdeu tempo assinando um decreto desse (desenho o manda-chuva assinando e rindo)”.

E lá vai o Cabrito levar mais e mais comidas pro povaréu. Não apenas feita em casa, mas até de outros restaurantes. Assim nasce uma profissão nova no mercado. Com um mês de trabalho, o Cabrito tem dinheiro para pagar autoescola, aprender a pilotar e comprar uma moto novinha em folha. Ele se diz herói porque enquanto os ditos humanos ficam pobres, os bodes se enriquecem. É a lei da compensação. Em breve os racionais serão irracionais e vice-versa.

Também surgem as torcidas organizadas do  Coronavírus-19, que  sonham com a chegada do Covid- 20, 21, até 1.000. Ou mais.  E não vai faltar nada para a irracionalidade. Muito menos para o Cabrito Delivery. Que se danem os babacas ex-humanos.

José Sana

24/07/2020

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