Eu sou a voz do futuro. Por conseguinte, não me leia agora. Deixe
para quando o porvir chegar. Somos de Itabira
sempre. Antes, durante e depois.
Existirá fisicamente a nossa terra em época que dizem ser imaginária, o hoje
tocável? É claro que sim. Os traumas das mudanças consumaram-se como vencidos.
A cidade começou vida nova. Mais acanhada, mas segue sobrevivendo.
A Itaurb foi privatizada. Não teve jeito. Houve desemprego em
massa, mas alguns funcionários foram reaproveitados. A empresa que a adquiriu
está feliz que até transparece. Todos
fizeram um ótimo negócio. Para que isso ocorresse bastou que se aplicassem
regras profissionais. Antigamente, a velha cuidadora do lixo itabirano tinha a
característica de cabide de empregos. Pendurava os prometidos de campanhas.
Agora mudou. Nem cabide, nem armário, nem guarda-roupa.
Um destempero generalizado ocorreu quando também privatizaram o
Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae). Os contrários alegavam que o Saae dá
muito lucro e é organizado. Contudo, os decididos do futuro atual provaram que se poderia triplicar o lucro. A contraprova de necessidade foi apresentada pelo
temor de altas excessivas nos valores das contas. Não adiantou. Hoje a empresa
se transformou e tem número reduzido de funcionários. A excelência cresceu. E
não falta mais água em torneira alguma, nem na periferia.
Do futuro vimos o passado, pertinho, logo ali. Nele aprendemos a
conjugar, não apenas gramaticalmente, mas sob a visão da filosofia, vários
verbos. Uma das expressões começa com a letra E. Refiro-me ao verbo evitar, que
é transitivo direto. Evitar o quê? A conjugação é normal, o verbo é regular.
Mas a sua explicação é complicada. O sujeito só diz que evitou fazer alguma
coisa quando praticou e deu certo. Ou seja, ia passar numa ponte; decidiu não
passar; imediatamente, a ponte caiu. Evitou.
Itabira, década de 1960: prefeito Daniel Grisolia acompanhando asfaltamento |
Itabira não evitou os traumas ocorridos. Poderia não ter feito isso ou aquilo. Temos este
conhecimento somente agora no futuro inimaginável. Ocorreram determinadas e
previstas correrias. Politicamente, muitas acusações. No mundo para tudo
procuram um bode expiatório. O fato de a Vale sair fora do contexto, ter
deixado dezenas de barragens como presentes de grego para os itabiranos, além
dos buracos, constituiu culpa de A, B, C
ou D. Os mais acusados são evidentemente os políticos.
Político não tem ideia. A ideia é que tem o político. Ele,
normalmente, não faz o que é certo, mas o que ouve dizer nas esquinas, salões
de beleza e velórios o que se impregna
na cabeça do povo. Quem faz o maior zum-zum-zum consegue emplacar os seus
desejos. Por isso chamam certas figuras e certas organizações de formadoras de
opinião.
Alguém quer saber que rumo tomaram os desesperados, amantes da
mineração e do lucro rápido. Eu digo que zarparam para outras cidades
mineradoras. A mineração demora a entrar na cabeça do ser humano. Depois,
dificilmente, sai. Entra como cola-tudo. Os mineradores ficam até invejosos dos
plantadores de verduras, frutas e legumes, e admiram os puxadores de
agronegócios. Mas não se desgrudam da ideia do bamburro, do lucro imediato,
entrada reluzente do ouro e seus derivados em bolsos forrados.
Resumo da história itabirana: tenta-se, ainda, encaixarem os itabiranos de coragem e de verdade na nova
vida que se impôs acontecer na terra de Carlos Drummond de Andrade, tirando-a da condição de incógnita. O que está
mandando na economia é a difusão de conhecimentos, expansão de universidades.
Os aposentados vão vivendo enquanto Deus lhes dá mais prazo de dias, meses e
anos. Os cinco mil funcionários municipais deram seu jeito e viraram mil e
ainda falam que precisam ser reduzidos.
Quem está entre o passado, o presente e o futuro quer saber: quem
foi, quem é e quem será o dirigente máximo de Itabira durante tantas enchentes,
tempestades, terremotos, tsunamis, furacões? Só posso responder daqui a pouco.
E querem saber também notícias dos chineses. Não arrisco dar respostas ainda. Somente sei que foram
atraídos e parece que, depois, traídos. Talvez fosse pelo medo do coronavírus.
Perguntam,
finalmente: em que a Vale contribuiu para que esta aparente calmaria reinasse neste
futuro presente? Resposta: ela foi discutir o tema na Bolsa de Valores de Nova
York. Em lá chegando, deparou-se com ninguém na área. Nadou de braçadas. E
assinou na ata em que redigiu de bom grado: “Fim de meus compromissos. Bye,
bye, bye”.
José Sana
Em
11/03/2020
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