quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Receita mineira: feijão + arroz + tempero = banquete

Um bom cozinheiro nasce quase pronto. Assim como um habilidoso cirurgião. Da mesma maneira um artista — plástico, literato, bordadeira etc. — e um praticante da modalidade de esporte que o Brasil venera como das multidões. Antes, porém, é preciso ir mais longe e citar o nome de um virtuose do futebol e sua ficha completa: Ronaldo de Assis Moreira nasceu em Porto Alegre, em 21 de março de 1980; apelidos que sustenta: Ronaldinho, Ronaldinho Gaúcho, Dinho. Pausa.

Abro um parêntesis nesta pausa para me lembrar de uma tia torta, de nome Bárbara, conhecida como Tia Barbita, que nasceu e morou em São Sebastião do Rio Preto, e ainda teve endereço em Itabira e Brasília, falecida recentemente. Ela era uma cozinheira de primeira linha. Pegava uma abóbora, ou chuchu, ou jiló e fazia deles um banquete. Ou melhor, como está no título desta página, Tia Barbita conseguia  transformar feijão + arroz + tempero num banquete, sem sequer medir a quantidade de cada ingrediente, de olhos fechados ou conversando as novidades do dia a dia ou das novelas das oito ou das nove. Contavam seus ancestrais que ela nasceu boa cozinheira. Precisou apenas conhecer as iguarias para transformá-las como se as benzessem. Fecho o parêntesis.
Quando nasceu o gênio Ronaldinho Gaúcho, em Porto Alegre, sua mãe, a amada Dona Miguelina, nascida em 1949, ano representado na costa do ídolo do Clube Atlético Mineiro pela camisa R49, alguém deve ter dito: "Chega ao mundo um craque do futebol". Foi preciso apenas o tempo e o tempero, este simbolizado pela torcida do Grêmio Porto-Alegrense. O moço percorreu o mundo e assombrou o mesmo  mundo com o seu futebol (jogou na França — Paris Saint Germain, Espanha — Barcelona, Itália — Milan). Importante é citar que em 2004 e 2005  foi eleito o melhor jogador do globo terrestre pela Fifa. Em 2011, foi acolhido por uma multidão no Rio de Janeiro, começando a jogar pelo Flamengo. Todos sabem que não deu certo, saiu de lá protagonizando uma briga feia com o clube carioca por motivos alheios ao objetivo desta página.
Este ano, chegou ao Clube Atlético Mineiro, aplaudido pela torcida apaixonada mineira e renegado pela maioria absoluta de adversários  (não vou citar nomes nem sequer a que facções pertencem os nuvens negras). Ele era o jiló amargo, ou a abóbora sem sabor, assim como o chuchu. Mais precisamente, Ronaldinho chegava como um feijão com arroz da Tia Barbita, mas lhe faltava um tempero. Esse, ele mesmo revelou em outras palavras, ao mostrar que nada houve na vida dele que o motivasse como a torcida do Galo.
Quantos já tentaram definir o que é essa torcida? Muitos pensam que são conformados amantes do futebol e das cores preto e branco. Cada um emite o seu palpite diferente da torcida e dos cronistas imparciais. Mas se fosse publicar a lista de declarações contrárias, demonstrando  desprezo à contratação feita pelo trio Alexandre Kalil, Eduardo Maluf e Cuca, ocuparia todos os espaços deste blog. Prefiro apenas mostrar a certeza da torcida atleticana, que sentiu no ar o cheiro de alegria e vibração, para ajudar o grande meia-atacante a voltar a jogar o futebol, o mesmo de antigamente. Segundo as estatísticas, R49 está mais eficiente hoje que nos do tempo do Barcelona, Seleção Brasileira, ou mais especificamente, nos anos de 2004 e 2005, quando recebeu a Bola de Ouro.
O feijão com arroz carismático encontrou em Belo Horizonte o alho, a gordura e a arte de cozinhar que tinham lhe arrebatado por meio de agressões morais e covardes. O segredo, nasceu com ele, mas o tempero vem da torcida, que não é a maior do Brasil, mas prova que é a melhor, a que faz com o jogador uma espécie de simbiose indescritível ou indefinível. Ele arrepia, a torcida arrepia, eu arrepia e você, se es tá lendo esta página, arrepia mais que todos.
Ronaldinho  conquistou os jogadores, levantou o futebol deles e fez a torcida do Galo soltar gritos mais altos e mais trêmulos de emoção e vibração. Salve o feijão com arroz mineiro com um tempero que se transforma em banquete em cada jogo na Arena Independência e  no ano que vem, todos têm a certeza, no Mineirão de 64 mil lugares disponíveis para milhões de corações alvinegros.

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