Está aí, no título, a mensagem que recebi de um amigo um tanto
quanto calado, introspectivo, cheio de mistérios, extremamente reservado. Ele
fez uma interligação do irregular verbo ser, que significa existir, no caso com
o substantivo ser humano, mesmo sem conhecer a gramática portuguesa e
autodenominar-se analfabeto total.
Os porquês vieram de explicações pela sua inarredável
desilusão. Disse-me que mandaria sua filha contatar-me e revelaria seus motivos
cruciais. Ela o atendeu e, mais tarde, identificou-se como Maria para retransmitir o pensamento do
pai. Anotei:
“Sei que há milhões, ou bilhões de anos, o homem labuta na face da
terra para sobreviver. A partir desta consciência, esse selvagem, no início,
decidiu que lhe era imposto enfrentar o semelhante também saído de uma toca.
Fiquei mais curioso e decidi fazer-lhe perguntas. Maria, escolada,
continuou a responder pelo pai, que mandou explicações de sua cabeça, sempre demonstrando
senso de observação sensata e aguçada, lógica, coerente.
“Passamos por várias fases — continuou a filha de meu amigo — e
sempre guerreando, preparando armas cada vez mais sofisticadas e mortíferas,
até chegarmos ao inadmissível instante maléfico do Coronavírus, essa pandemia
que nos assola. Antes, como exemplo para o mundo, testemunhamos, via rádio e jornais, o ataque final da
Segunda Guerra, quando os Estados Unidos atiraram bombas mortíferas sobre
Hiroshima e Nagasaki, no Japão, inacreditável demonstração de selvageria acima do normal".
“A ideia de debater, ser contra, combater, armar-se, estar afiado,
pronto para o ataque, discordar, ter um lado radical para nele se postar, ser
radicalmente contra tudo, sempre foi característica do habitante do Planeta
Terra”, completou Maria, acho que Do Bom Senso.
E eu, que estava assentado, lendo e ouvindo a intérprete de meu
amigo X, que me pediu para não citá-lo em crônica, deitei-me, estarrecido e aturdido com a
singeleza e sábias palavras, ditas com propriedade por um reconhecido analfabeto. Queixo caído, continuei
deitado, contemplando o teto. Ele havia me confessado que no fim da Segunda
Guerra Mundial tinha lá seus 12 anos, por aí, e sabia das notícias pelos avós e pais. Achava
os responsáveis pelo conflito, Adolf Hitler e Benito Mussolini, cruéis e
irresponsáveis, mas pensava consigo mesmo: “Será que não topariam fazer uma mesa
redonda e resolver tudo na paz já que Nazismo e Fascismo eram para eles desejo de implantar um império mundial?”
Reforçou histórica e filosoficamente: “O homem criou, inventou,
desenvolveu, resolveu problemas inacreditáveis, mas tudo materialmente. E, fisicamente,
chegou a uma situação que não lhe permite ter a coragem de encarar a verdade
nua e crua: retrocedeu mil anos por 365 dias durante longas jornadas. Evitou
guerras? Não, só as cancelou temporariamente e continuou armado. Buscou a paz?
Não, somente por uns tempos, mas sempre pensando em lutas, terror, conflitos,
revoluções, golpes, tocaias, ataques, covardias, destruição”.
Maria vai finalizar, peço ao amigo que ela interpreta um fechamento
de seu desabafo e ela me atendeu por ele: “O que fez de bom esse habitante do mundo? Nada
no sentido objetivo da expressão. Praticou calculadamente o verbo dividir em
tudo, separando patrão de empregado, homem de mulher, pais de filhos, criou ideologias torpes e insignificantes, discordou e discorda sempre de quase tudo, nunca percebe o quanto
erra e suicida-se ininterruptamente, de tempo em tempo”.
“Agora este homem estarrece o mundo e chega ao cume da ignorância:
enfrentamos uma pandemia de quase um ano de ataque à humanidade, o Coronavírus ou
Covid-19 e, devido ao ignominioso costume de ser dono de opinião dita própria (e não é nada disso!),
não tem sequer humildade para conversar, debater, ceder, compreender,
reconhecer sua fraqueza e recolher-se à sua insignificância devida ou desfaçatez cruel”. E só.
Conclusão: agradeci a voz da experiência sem graduação, pós-graduação, mestrado, doutorado, PHD, e pedi perdão por mim e pelos desagradáveis
negativistas de ambos os sexos ou de vários lados que vivem por aí pecando como
idiotas perdidos.
E meu amigo X ainda comparou-nos a pelo menos três burros que
puxam uma carroça para três direções distintas. Não saem do lugar, não cedem mas arrastam as rédeas cada um para o seu devido ou indevido rumo.
Somos esses animais irracionais
atrelados?
José
Sana
19/01/2021
Somos sim. E sem noção que rumo gostaríamos de tomar, caso a "minha força" fosse a vencedora. Sou idiota, apenas por ser humano.
ResponderExcluir