Não desisto. Quanto mais vivo; quanto mais observo milhões de pessoas com problemas os mais complicados; quanto mais vejo as comunidades aflitas e desamparadas; quanto mais a miséria cresce em todas as partes; quanto mais sinto a vida tornando-se difícil para todos; quanto mais testemunho os governantes distanciando-se do povo; quanto mais contemplo as dificuldades desses governantes em serem justos, em acertarem nas medidas e até mesmo em ligarem a complexa máquina administrativa — mais me convenço do seguinte: não há outro caminho senão mudar o modelo político-administrativo até agora adotado por praticamente todas as cidades brasileiras, talvez do mundo.
Mas quem sou eu para mudar o mundo? Deixo aí a minha humildade pedir desculpas a quem interpretar mal as minhas palavras.
Está muito repetitivo dar murros em pontas de faca e adiar cansativamente para o futuro soluções que podem ser eficazes e perfeitamente aplicáveis agora. Nada de milagres, sou obsessivo nesta citação até tornar-me enjoado, lamento tal procedimento, mas para mim não há mais o que fazer. O óbvio se escancara aos nossos olhos e, na dúvida de ser atual a proposta, deixo mais uma garantia da ideia: o Plano Funil era avançadíssimo na data de sua criação e implantação. Até hoje o é, posso garantir, mas por que deixá-lo para depois se o caldo está entornando em todas as partes?
Tenho dezenas, talvez centenas de cidadãos que participaram da experiência do Funil e ainda assinam uma descrição detalhada do que se realizou, mesmo apenas com a gerência da Câmara Municipal, enquanto a Prefeitura permanecia apenas na arquibancada, infelizmente. A partir do I Encontro Municipal de Associações de Amigos de Bairros, realizada em 1976, que tive a honra de coordenar quando era presidente o saudoso vereador José Braz Torres Lage, surgiu a semente do projeto. A aplicação, contudo, ocorreu no ano seguinte, com apoio irrestrito de 14 vereadores, incluindo o então presidente, vereador José Vital da Silva.
O Plano Funil é um modelo que propõe organizar a sociedade e torná-la atuante, comprometida e responsável. A proposta clara em seu organograma não envolve somente entidades comunitárias. Estava no contexto a participação de clubes de serviço, organizações filantrópicas e representativas de classes, todos os que se traduziam o correto termo no ápice de sua expressão: coletividade. Repito: sem milagre. Milagre é prodígio, assombro, espanto, surpresa, coisa do além. Pés no chão, mas, principalmente, renúncia de vaidades e abuso de poder.
Não há outro método para tornar o povo participativo, acredito neste meu vasto tempo de 48 anos de militância política, jornalística e de trabalho acadêmico e experiência em salas de aula. Governante algum seria capaz de falar com dez mil, vinte mil ou cento e vinte mil pessoas, e ouvi-las simultaneamente, nem num município de um mil e poucos moradores. Mas o projeto cabe perfeitamente em cada um dos 5.570 municípios brasileiros, em todos, sem exceção. Acredito e ponto.
O Funil, em que cada cidadão deixa registrada sua opinião, ou reivindicações, ou o que o torna fantástico, compreensão, contatos feitos sempre em reuniões, agora também incluindo os recursos da internet, trata a responsabilidade social também de empresas e organizações até chegar a vez, na mesma medida, de renegados ou excluídos. O modelo de democracia criada no mundo a partir da Grécia na Antiguidade tornou-se liberdade representativa à medida que as populações cresceram. Mas cresceram tanto que se dispersaram e perderam a força por tal motivo. A representatividade agora é uma honrosa participação, inteligente caso o representado se faça ouvir e se impor.
Quem manda no poder, hoje? Somente aqueles que investiram em campanhas políticas as suas forças — finanças, prestígio social, currículos avançados e outras influências — para a eleição de um líder. O poder comunitário precisa entrar em campo também, ele substitui a agravante pressão da politicagem e até evita a corrupção, e é o melhor assessor dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Nada de solução utópica ocorre em lugar algum, agora é um modelo novo. A partir do Plano Funil criam-se ações e soluções. Unirem-se as pessoas, tirá-las da morosidade, acordar o povo. É o que se tem a fazer.
E aproximar governantes de governados.
Salvo melhor juízo.
José Sana
Itabira, 11-01-2021
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