segunda-feira, 22 de outubro de 2018

FILA DE LOTÉRICA: LOCAL DE COMÍCIOS PARA SALVAR O BRASIL


Diálogo que gravei na fila diária de loterias que estão cada vez mais extensas por aí:


Um paciente frequentador de filas lotéricas resolveu abrir uma conversa considerada proveitosa no final e que merece atenção. Dirigindo-se a um amigo nas mesmas condições de pagador de contas, fez a pergunta que estava entalada em sua garganta?

— Me explique aqui, moço: por que você vai votar no Bolsonaro?

— Vou te contar, rapaz... Foi assim: faz um bom tempo, estávamos ainda longe das eleições, uma de minhas filhas chegou junto a mim e disse: “Pai, eu não voto no Bolsonaro”. Fiquei calado, nem sabia quem era esse tal de Bolsonaro. Pensei até que fosse uma onça, ou cobra venenosa, algo assim.

— E aí?

— Aí aconteceu o seguinte: passado mais um tempo, ainda longe das eleições, minha filha voltou a dizer, agora também à mãe, a mesma frase: “Eu não voto no Bolsonaro”. Eu, curioso, perguntei logo e quis saber o segredo: “Por que, minha filha, você não vota no Bolsonaro?” Ela explicou que “não voto no Bolsonaro porque o meu namorado também não vota, a irmã dele não, a outra irmã também não”.

— Conte o resto da história, moço! — insistiu o colega de fila da loteria.


Foto: Divulgação

— Dia deste eu não havia ainda escolhido candidato algum. Só carregava aquele palpite, a síndrome que se criou em mim. Por causa da conversa com a minha filha só tinha em mente que nesse Bolsonaro seria arriscado votar, pois ele deve ser uma cobra venenosa. Aí, resolvo perguntar a todos que estavam reunidos para o almoço de domingo: “Em quem vamos votar para presidente, pessoal?” Minha filha respondeu: “Eu não sei ainda, meu namorado também não sabe, mas só tomamos uma decisão: “Não vamos votar no Bolsonaro”.

— Cara, estou cada vez mais curioso e quero o fim desta pendenga porque está chegando a minha vez de ser atendido ali no guichê. Afinal de contas, o que deu o seu diálogo com a sua filha?

— Agora o papo acabou de vez, meu amigo. Resolvi chamar a minha filha e o namorado dela para uma conversa. Abri o verbo: “Vamos decidir em quem vamos votar?” Eles toparam e foi proveitosa a conversa. O meu futuro genro (se Deus permitir) bebeu um copo de água, franziu a testa e pareceu subir numa tribuna, consertou a gola da camisa e soltou o verbo: “Não vamos votar no Bolsonaro porque ele vai mudar tudo. Ele disse que vai acabar com as nomeações políticas nas estatais, que o seu critério será técnico e que vai sumir com esses 20 mil apadrinhados que mamam descaradamente; afirmou que vai reduzir o número de ministérios, que vai agir rápido porque deixar para depois vai emperrar o seu governo; ele quer desregulamentar a burocracia para que mais empresas sejam abertas, quer privatizações e concessões amplas e pensa logo em reformar a Previdência, veja que maluco!”

Meu futuro genro (Deus queira que dê certo o casamento) prosseguiu na sua costumeira eloquência, até que é um bom rapaz:

“Bolsonaro deseja modificar a política de financiamentos pelo BNDES, ele defende conceder empréstimos com menores valores para o maior número de empresas, eu li isso hoje no Folha de São Paulo; Bolsonaro quer acabar com os “Mais Médicos”, que trazem profissionais de Cuba, vai exigir que eles façam exames rigorosos para atuar na Medicina, a Revalida, como o fazem os brasileiros, que coisa, hein? Por que não ajudar os cubanos?”

Ingeriu mais um copo de água e continuou:

“Agora, veja mais um absurdo: com Bolsonaro, em quem não votamos, haverá uma aproximação com os Estados Unidos, afastados pelo governo do PT por questões ideológicas. Bolsonaro, esse maluco, considera que os EUA são a maior economia do mundo e sempre deu certo o Brasil relacionar-se com o país do Trump. Bolsonaro quer mudar a relação com o Mercosul. Diz que o acordo entre os países atrasa o desenvolvimento econômico do Brasil. O que é de estarrecer: ele quer dar força, apoio, dinheiro para a Operação Lava Jato e disse que por ele Lula mofará na cadeia para o resto da vida. Esse cara precisa de um tratamento médico e psicológico”.

Empolgadíssimo, não mais que eu àquela altura, encerrou:

“Até em Segurança Pública ele quer mudar e diz claramente que haverá alterações radicais, a começar pela valorização das polícias, com mais investimentos e apoio do Estado. Logo essas polícias que matam sem parar. Não quer o Bolsonaro ações do MST e MTST, como esse humilde povo vai viver? Garante que vai cortar as regalias e benefícios que esses movimentos têm e olhe, esse Bolsonaro é um louco!”

— E acabou?

— Acabou, sim, eu apertei a mão de meu futuro genro (talvez seja porque o Brasil corre o risco de melhorar) e beijei e abençoei a minha filha. Disse a eles: “Eu não quero mais ouvir nenhuma palavra. Agradeço pela orientação que me deram: meu voto é desse tal de Bolsonaro, e vou sair por aí dizendo que nunca o Brasil teve um candidato tão bom como o Bolsonaro. Tenho fé em Deus que ele vai ganhar e nos livrar desse estado de coisas em que vivemos”.

Todos os que ocupavam as filas da loteria bateram palmas para o diálogo. E só tinha um que não votava em Bolsonaro, mas adiantou: “Domingo que vem, dia 28, vou viajar e pretendo justificar a ausência. Não faço parte desse conluio nem para consertar nem para atrapalhar o Brasil”.

José Sana
22/10/2018

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